Marxismo

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Karl Marx.

O marxismo é o conjunto de doutrinas políticas e filosóficas derivadas da obra de Karl Marx, filósofo e jornalista revolucionário alemão, quem contribuiu em campos como a sociologia, a economia e a história, e de seu amigo Friedrich Engels, quem lhe ajudou em muitos de seus avanços em suas teorias.

Para distinguir a doutrina inicial das correntes derivadas, ao marxismo proposto por Marx e Engels denominou-se historicamente como socialismo científico.

Conteúdo

As raízes filosóficas do marxismo

Primeira edição do Manifesto do Partido Comunista.

Marx teve duas grandes influências filosóficas: a de Feuerbach, que lhe contribuiu e afirmou sua visão materialista da história, e indubitavelmente a de Hegel que inspirou a Marx a respeito da aplicação da dialéctica ao materialismo. Ainda que para seu trabalho de disertación doctoral elegeu a comparação de dois grandes filósofos materialistas da antiga Grécia, Demócrito e Epicuro, Marx já tinha feito seu o método hegeliano, sua dialéctica. Já em 1842 tinha elaborado sua Crítica da filosofia do direito de Hegel desde um ponto de vista materialista.
Mas a princípios da década do 40, outra grande influência filosófica fez efeito em Marx: Feuerbach. Especialmente com sua obra A esencia do cristianismo. Tanto Marx como Engels abraçaram a crítica materialista de Feuerbach ao sistema hegeliano, ainda que com algumas reservas. Segundo Marx, o materialismo feuerbachiano era inconsecuente em alguns aspectos, idealista. Foi nas Teses sobre Feuerbach (Marx, 1845) e A ideologia alemã (Marx e Engels, 1846) onde Marx e Engels ajustam suas contas com suas influências filosóficas e estabelecem as premisas para a concepção materialista da história.

Se no idealismo de Hegel a história era um devir contradictorio que refletia o autodesarrollo da Ideia Absoluta, em Marx são o desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção as que determinam o curso do desenvolvo sócio-histórico. Para os idealistas o motor da história era o desenvolvimento das ideias. Marx expõe a base material dessas ideias e encontra ali o fio condutor do devir histórico.

Influências intelectuais em Marx e Engels

Marx e Engels basearam-se na filosofia alemã de Hegel e de Feuerbach , a economia política inglesa de Adam Smith e de David Ricardo, e o socialismo e comunismo francês de Saint-Simon e Babeuf respectivamente, para desenvolver uma crítica da sociedade que fora tanto científica como revolucionária. Esta crítica atingiu sua expressão mais sistémica em sua obra mais importante dedicada à sociedade capitalista, O capital: crítica da economia política.

Além das raízes mencionadas, alguns pensadores marxistas do século XX, como Louis Althusser ou Miguel Abensour, têm assinalado na obra de Marx, o desenvolvimento de temas presentes na obra de Maquiavelo ou Spinoza. Também diversos sociólogos e filósofos, como Raymond Aron e Michel Foucault, têm rastreado na visão marxista do final do feudalismo como começo do absolutismo e a separação do Estado e a sociedade civil, a influência de Montesquieu e Tocqueville, em particular em suas obras sobre o bonapartismo e a luta de classes na França.

A concepção materialista da história

Ver materialismo histórico

Marx resumiu a génesis de sua concepção materialista da história em Contribuição à crítica da economia política[1] (1859):

O primeiro trabalho empreendido para resolver as dúvidas que me açoitavam, foi uma revisão crítica da filosofia hegeliana do direito, trabalho cuja introdução apareceu em 1844 nos “Anales francoalemanes”, que se publicavam em Paris. Minha investigação levou-me à conclusão de que, tanto as relações jurídicas como as formas de Estado não podem se compreender por si mesmas nem pela chamada evolução geral do espírito humano, senão que, pelo contrário, radican nas condições materiais de vida cujo conjunto resume Hegel seguindo o precedente dos ingleses e franceses do século XVIII, baixo o nome de sociedade civil”, e que a anatomía da sociedade civil há que procurar na economia política.

Em Bruxelas a onde me transladei em consequência de uma ordem de desterro ditada pelo senhor Guizot prossegui meus estudos de economia política começados em Paris. O resultado geral ao que cheguei e que uma vez obtido serviu de fio condutor a meus estudos pode se resumir assim: na produção social de sua vida os homens estabelecem determinadas relações necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma fase determinada de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção forma a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a que se levanta a superestructura jurídica e política e à que correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social política e espiritual em general. Não é a consciência do homem a que determina sua ser senão, pelo contrário, o ser social é o que determina sua consciência.

Ao chegar a uma fase determinada de desenvolvimento as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que não é mais que a expressão jurídica disto, com as relações de propriedade dentro das quais se têm desenvuelto até ali. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações convertem-se em travas suas, e abre-se assim uma época de revolução social.

Ao mudar a base económica transforma-se -mais ou menos rapidamente- toda a imensa superestructura erigida sobre ela. Quando se estudam essas transformações há que distinguir sempre entre as mudanças materiais ocorridos nas condições económicas de produção e que podem apreciar com a exactidão própria das ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em uma palavra as formas ideológicas em que os homens adquirem consciência deste conflito e lutam pelo resolver. E do mesmo modo que não podemos julgar a um indivíduo pelo que ele pensa de si, não podemos julgar também não a estas épocas de transformação por sua consciência, senão que, pelo contrário, há que se explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção.

Nenhuma formação social desaparece dantes de que se desenvolvam todas as forças produtivas que cabem dentro dela, e jamais aparecem novas e mais elevadas relações de produção dantes de que as condições materiais para sua existência tenham madurado dentro da própria sociedade antiga. Por isso, a humanidade se propõe sempre unicamente os objectivos que pode atingir, porque, olhando melhor, encontrar-se-á sempre que estes objectivos só surgem quando já se dão ou, pelo menos, se estão gestando, as condições materiais para sua realização. A grandes rasgos, podemos designar como outras tantas épocas de progresso na formação económica da sociedade o modo de produção asiático, o antigo, o feudal e o moderno burgués.

As relações burguesas de produção são a última forma antagónica do processo social de produção; antagónica, não no sentido de um antagonismo individual, senão de um antagonismo que prove das condições sociais de vida dos indivíduos. Mas as forças produtivas que se desenvolvem na sociedade burguesa brindam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a solução deste antagonismo. Com esta formação social fecha-se, portanto, a prehistoria da sociedade humana.

A economia marxista

Em seu labor político e jornalística Marx e Engels compreenderam que o estudo da economia era vital para conhecer a fundo o devir social. Foi Marx quem dedicou-se principalmente ao estudo da economia política uma vez que se mudou a Londres . Marx baseou-se nos economistas mais conhecidos de sua época, os britânicos, para recuperar deles o que servia para explicar a realidade económica e para superar criticamente seus erros.

Vale aclarar que a economia política de então tratava as relações sociais e as relações económicas as considerando entrelazadas. No século XX esta disciplina dividiu-se em duas.

Marx seguiu principalmente a Adam Smith e a David Ricardo ao afirmar que a origem da riqueza era o trabalho e a origem do ganho capitalista era o plustrabajo não retribuido aos trabalhadores em seus salários. Ainda que já tinha escrito alguns textos sobre economia política ( Trabalho assalariado e capital[1] de 1849, Contribuição à Crítica da Economia Política[1] de 1859, Salário, preço e ganho[1] de 1865) sua obra cimeira ao respecto é O Capital.

O capital ocupa três volumes, dos quais só o primeiro (cuja primeira edição é de 1867) estava terminado à morte de Marx. Neste primeiro volume, e particularmente em seu primeiro capítulo (Transformação da mercadoria em dinheiro), encontra-se o núcleo da análise marxista do modo de produção capitalista. Marx começa desde a “célula” da economia moderna, a mercadoria. Começa por descrevê-la como unidade dialéctica de valor de uso e valor de mudança. A partir da análise do valor de mudança, Marx expõe sua teoria do valor, onde encontramos que o valor das mercadorias depende do tempo de trabalho socialmente necessário para as produzir. O valor de mudança, isto é, a proporção em que uma mercadoria se troca com outra, não é mais que a forma em que aparece o valor das mercadorias, o tempo de trabalho humano abstrato que têm em comum. Depois Marx vai-nos guiando através das diferentes formas de valor, desde o trueque directo e ocasional até o comércio frequente de mercadorias e a determinação de uma mercadoria como equivalente de todas as demais (dinheiro).

Bem como um biólogo utiliza o microscopio para analisar um organismo, Marx utiliza a abstracção para chegar à esencia dos fenómenos e achar as leis fundamentais de seu movimento. Depois desanda esse caminho, incorporando paulatinamente novo estrato sobre novo estrato de determinação concreta e projectando os efeitos de dito estrato em uma tentativa por chegar, finalmente, a uma explicação integral das relações concretas da sociedade capitalista quotidiana. No estilo e a redacção tem um peso extraordinário a herança de Hegel.

A crítica de Marx a Smith, Ricardo e o resto dos economistas burgueses residem em que sua análise económica é ahistórico (e portanto, necessariamente idealista), já que tomam à mercadoria, o dinheiro, o comércio e o capital como propriedades naturais innatas da sociedade humana, e não como relações sociais produtos de um devir histórico e, portanto, transitórias. Junto com a teoria do valor, a lei geral do agregado capitalista, e a lei da baixa tendencial da taxa de ganho, são outros elementos importantes da economia marxista.

Análise de classes

Os marxistas consideram que a sociedade capitalista se divide em classes sociais, das que tomam em consideração principalmente duas:

  • A classe trabalhadora ou proletariado: Marx definiu a esta classe como «os indivíduos que vendem sua mão de obra e não possuem os meios de produção», a quem considerava responsáveis por criar a riqueza de uma sociedade (edifícios, pontes e mobiliário, por exemplo, são construídos fisicamente por membros desta classe; também os serviços são prestados por assalariados). O proletariado pode dividir-se, a sua vez, em proletariado ordinário e lumpenproletariado, os que vivem em pobreza extrema e não podem achar trabalho lícito com regularidade. Estes podem ser prostitutas, mendigos ou indigentes.
  • A burguesía: quem «possuem os meios de produção» e empregam ao proletariado. A burguesía pode dividir-se, a sua vez, na burguesía muito rica e a pequena burguesía: quem empregam a mão de obra, mas que também trabalham. Estes podem ser pequenos proprietários, camponeses terratenientes ou comerciantes.

Para o marxismo, o comunismo seria uma forma social na que a divisão em classes teria terminado, a estrutura económica seria produto de «a associação dos produtores livres», e a produção e distribuição dos bens efectuar-se-ia segundo o critério «da cada qual de acordo a sua capacidade; para a cada qual segundo suas necessidades».

O marxismo e a religião

O marxismo tem sido tradicionalmente oposto a todas as religiões. Marx escreveu ao respecto que “o fundamento da crítica irreligiosa é: o ser humano faz a religião; a religião não faz ao homem” e a frase cujo final fá-se-ia célebre:

A miséria religiosa é, por uma parte, a expressão da miséria real e, pela outra, o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, bem como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o opio do povo.[2]

A referência ao opio tem prestado a uma interpretação vulgar já que este não é -como costuma se supor- um estupefaciente nem também não um alucinógeno, senão um narcótico analgésico. Este equívoco do leitor contemporâneo tem derivado em uma confusão frequente respecto da sentença marxista. Cita-a completa revela o por que da referência a um opiáceo: jamais pretende que a religião se considere uma forma de degradação intelectual nem também não uma mera ilusão gerada pelas classes dominantes (interpretação não marxista que suprimiria a ideia que este tinha da ideologia, isto é, a ilusão de universalidade dentro da cada classe), senão que a religião seja, pelo contrário, o anestésico necessário da sociedade inteira em frente à alienación social e das classes oprimidas em frente a suas condições materiais de existência.

Em Marx, a crítica da religião não é uma defesa do ateísmo, senão a crítica da sociedade que faz necessária à religião. A exclusão destas condições e a realização plena da comunión humana desvincula-se da condição biológica, projectando ao céu” como intervenção divina em uma parusía futura, particularmente no especial caso do cristianismo,[3] em vez de se construir politicamente mediante a abolição da propriedade privada e a divisão do trabalho. O fundamento filosófico da rejeição marxista da religião tem estado vinculado ao desenvolvimento do materialismo dialéctico por parte de Engels e Lenin.

Em qualquer caso, tem tido diversos teóricos que consideram que ser marxista e religioso é compatível. Dentro deles se pode assinalar ao irlandês James Connolly e a diversos autores dentro da teología da libertação como Camilo Torres e Leonardo Boff.
Mas a crítica teórica para qualquer religião baseia-se em que esta é concebida como o resultado da produção da superestructura da sociedade, isto é, da fabricação de ideias ideológicas que se faz uma sociedade sobre seus próprios modos de produção económicos. Assim, a religião sempre é uma concepção de ideias políticas que tendem a reafirmar a estrutura económica existente.
Os textos marxistas onde se pode encontrar informação sobre a concepção marxista da religião são: A ideologia alemã de Marx e Engels, e A filosofia como arma da revolução de Louis Althusser. Marx descreve à religião como um ente alienador, o qual lhe põe como meta atingir a Deus, situação impossível para um humano pois Deus é a esencia humana deificada, isto é: a humanidade deu-lhe suas melhores características a Deus. A religião faria conformista ao homem e obrigá-lo-ia a não lutar neste mundo, pois este é só um preludio do verdadeiro. A síntese cristão-marxista dos teólogos da libertação replica que o marxismo não implica este aserto e que, de ser assim, também as classes dominantes impregnadas de espírito religioso seriam conformistas respecto de sua existência material e inclusive seriam pasivas em frente a um conflito com outras classes sociais. Para estes, em mudança, a religião -e em particular a cristã- sempre exige uma luta neste mundo em função de uma comunidade religiosa: seja com ou sem classes dependendo de como lha entenda politicamente. Deve recordar-se que para o catolicismo a resurrección é o regresso ao edén na terra e que, ainda que dependa de Deus, nenhum esforço individual faria sentido se estivesse coroado por uma morte sem volta (inclusive se a realização plena da humanidade pudesse se fazer só socialmente e não biologicamente como na resurrección cristã), já que a salvação da cada homem de acordo a seu esforço dentro do alienado mundo presente só pode ser assegurado com a eternidade e a participação no mundo venidero. Isto é igualmente verdadeiro tanto para o ideário de autorrealización pessoal da direita cristã (calvinista ou ao menos reconciliada com a burguesía), como para a luta de classes da esquerda cristã (marxista ou não), como para as originarias posições ascéticas e apolíticas do cristianismo primitivo. Estas últimas em particular deram forma estamental à dicotomía interna entre a vida económica e a religiosa do ocidente medieval extramundano e a sua particularidade histórica de fusão entre “sociedade civil” e “sociedade política” descrita com atenção por Marx em sua obra Sobre a questão judia, cuja visão chegaria, junto com a oposta de Nietzsche , a Max Weber, e que entroncaría no debate marxista-weberiano sobre a influência económica da religião.

Em sua versão mais ortodoxa, a interpretação marxista da religião seria a de uma forma de alienación cuja consequência para o homem seria perder suas virtudes para adjudicárselas a um inventado ser supremo. Segundo Karl Marx, isto é o que ocorreria em particular com a religião monoteísta: o homem toma toda a virtude que possui e toda idealización metafísica possível, e lha atañe a um ser supremo de sua própria criação, devaluándose a si mesmo e dedicando sua ser e próprio destino a sua vontade e uma trascendencia irreal possibilitada por sua existência.

Partidos, movimentos e governos inspirados no marxismo

Desde a morte de Marx em 1883 , vários grupos do mundo inteiro têm apelado ao marxismo como base intelectual de suas políticas, que podem ser radicalmente diferentes e opostas. Uma das maiores divisões ocorreu entre os reformistas, também denominados social-democratas, que alegavam que a transição ao socialismo pode ocorrer dentro de um sistema pluripartidista e capitalista, e os comunistas, que alegavam que a transição a uma sociedade socialista requeria uma revolução para instaurar a ditadura do proletariado. A socialdemocracia resultou na formação do Partido Laborista e do Partido Social-democrata da Alemanha, entre outros partidos; enquanto o comunismo resultou na formação de vários partidos comunistas; em 1918 na Rússia, prévio à formação da União de Repúblicas Socialistas Soviéticas, dimanan 2 partidos do Partido Operário Social Democrata da Rússia: o Partido Comunista, formação comunista, e o Partido Social Democrata da Rússia.
Ainda segue tendo muitos movimentos revolucionários e partidos políticos em todo mundo, desde o final da União Soviética, ainda que o internacionalismo operário tem sofrido uma grave crise. Ainda que há partidos social-democratas no poder em várias nações de Occidente, faz muito que se distanciaram em aspectos relevantes de seus laços históricos com Marx e suas ideias. Na actualidade em Laos , Coréia do Norte, Vietname, Cuba, a República Popular Chinesa e Moldávia há no poder governos que se autoproclaman marxistas.

Muitos governos, partidos políticos, movimentos sociais e teóricos académicos têm afirmado fundamentar-se em princípios marxistas. Exemplos particularmente importantes são os movimentos social-democratas da Europa do século XX, o bolchevismo russo, a União Soviética (Lenin, Trotsky, Stalin) e outros países do bloco oriental, Mao Zedong, Fidel Castro, Ernesto “Che” Guevara, Santucho, Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba, Julius Nyerere, Thomas Sankara e outros revolucionários em países agrários em desenvolvimento. Estas lutas têm agregado novas ideias a Marx e, pelo demais, têm transmutado tanto o marxismo que resulta difícil especificar o núcleo deste. Actualmente as transformações sócio-económicas têm obrigado a repensar ao marxismo em uma linha chamada posmarxismo na qual se encontram autores como Ernesto Laclau e Chantal Mouffe.

A Revolução de outubro de 1917, encabeçada pelos bolcheviques (cujas figuras principais eram Vladímir Lenin e León Trotsky) foi a primeira tentativa a grande escala de pôr em prática as ideias socialistas de um Estado operário.

Sucedem-se outra série de governos ou duplos poderes operários de relativamente breve duração, impulsionados por revoltas proletarias com activa participação dos partidos comunistas locais, inspirados no modelo de república de conselhos operários. A maioria destes são aplastados pelas forças da reacção capitalista dos diferentes governos e potências burguesas e fracassam. São o caso da Revolução de novembro de 1918 , encabeçada pelos espartaquistas na Alemanha, a República Soviética Húngara de 1919 , a República Soviética Bávara de 1919 , o biénio vermelho ou movimento de conselhos de fábrica do norte da Itália de 1919 a 1920 , o Sóviet de Nápoles, a República Socialista Soviética Galiciana em 1920 , a República Popular Soviética de Bujara de 1920 a 1925 , a República Socialista Soviética de Persia ou República Soviética de Gilan, de 1920 a 1921 , etc.

Depois de morrer Lenin, Iósif Stalin tinha-se feito com uma grande concentração de poder em suas mãos no seio do Partido Comunista e do Estado soviético, o qual foi fortalecendo em detrimento dos próprios soviets (já de por sim debilitados durante a fome, a bancarrota económica e os massacres ocasionados pela Guerra Civil Russa). Até sua morte, numerosas purgas viveram-se na URSS, baixo consignas tais como a “luta contra o trotskismo”, “as sabotagens”, ou “os agentes do fascismo”, nas que se conseguiu inhabilitar aos principais elementos críticos do PCUS e a sociedade soviética, muitos deles comunistas, testemunhas directas da Revolução e opositores em maior ou menor medida à deriva burocrática e a concentração de poderes que se estava a gerar em seio da URSS, encarnada em uma casta de servidores públicos e burócratas do partido, cuja divergência de interesses com respeito à classe trabalhadora e o perigo que entranhavam para a revolução operária começam a se manifestar desde a primeira metade dos anos 20, ainda em vida do próprio Lenin. Ditas purgas só conseguem fortalecer o poder da nova direcção do PCUS, encabeçada agora por Stalin , e cedo estender-se-ão às secções nacionais do Komintern, que, a nível internacional, começa a ser dirigido desde o comisariado de assuntos exteriores em Moscovo .

Ainda que levaram a cabo pequenas contribuições teóricas ao marxismo, Stalin e seus seguidores caracterizam-se por ter dado cobertura ideológica a seus métodos e posicionamentos tácticos e políticos, encaminhados ao fortalecimiento do controle sobre os meios de produção e administração do Estado por parte da burocracia e direcção central do partido, através da falsificação ou a adaptação dos princípios ideológicos do marxismo e do leninismo a seus próprios fins. Isto derivará em um sistema de governo e pensamento formulado baixo o nome de marxismo-leninismo e a teoria do socialismo em um sozinho país, também chamado estalinismo, considerado por seus críticos marxistas como um afastamento ou distorsión dos postulados e princípios da tradição marxista e pensadores como Marx, Engels ou Lenin; particularmente insistentes nesta postura são aquelas correntes baseadas nas propostas de Trotsky e Lenin (trotskismo) e as do denominado comunismo de esquerda, o marxismo libertario ou o comunismo de conselhos, também críticos neste sentido com a denominada corrente do leninismo (e portanto o trotskismo). A raiz da morte de Stalin, esta burocracia termina por acaparar o poder e afianzarse no telefonema nomenklatura. Esta começará em médio prazo um processo de progressiva liberalização da economia, que culminará com a perestroika.

Ao final da II Guerra Mundial produziu-se uma expansão, pela via militar, do poder político da URSS, que se consolidou mediante o estabelecimento dos chamados Estados satélites ou do Pacto de Varsovia, nos países do Leste que ficaram baixo sua zona de influência depois dos acordos de Yalta e de Postdam . Estes Estados reproduziram estruturas políticas e sociais e tipos de economia e de governo muito similares aos da União Soviética. Foram governados mediante a formação de Partidos Comunistas, enquadrados na Komintern, e adscritos às fórmulas do marxismo-leninismo oficial. Alguns dos partidos adscritos à Internacional Comunista que chegaram a se formar por si mesmos, conseguiram à postre tomar o poder através de insurrecciones guerrilleras e, em alguns casos, com bastante apoio popular, e estabelecer um estado que seguia o modelo marxista-leninista oficial. Estas nações compreendiam à República Popular Chinesa, Vietname, Coréia do Norte, Jugoslávia, Albânia, Etiópia, Yemen do Sur, Angola, e outros. Após a invasão militar por parte do Vietname de Kampuchea Democratica, governada pelo Jemer Vermelho, um governo de estrutura similar àquele será estabelecido em Camboja .

Em Chile , o governo da Unidade Popular, encabeçado por Salvador Além, que durou desde 1970 até o golpe de estado de 1973, tinha uma forte inspiração marxista. Conquanto mudou radicalmente as formas de luta conhecidas ao concretar um governo pela via eleitoral, a revolução à chilena procurava a transformação da sociedade com olhas para o socialismo. Ao mesmo tempo, a coalizão que levou a Além ao governo estava construída pela união do Partido Comunista e o Partido Socialista, ambos declarados marxistas-leninistas nesse tempo.

Em 1991, a União Soviética dissolveu-se e o novo Estado russo já não se identificou com o marxismo. Outras nações do mundo seguiram o mesmo caminho. Actualmente o socialismo científico tem deixado de ser uma força política prominente na política mundial. China, onde governa o Partido comunista chinês, relaxou sua concepção económica do marxismo em 1978 avançando progressivamente para um sistema económico mais próximo ao livre comércio. Este processo continua hoje em dia.

Desde o começo da democrácia em Espanha, em 1975, o PSOE apresentou-se às eleições como um partido Marxista, proclamandose primeira força de oposicion no governo até que em 1982, com Felipe González à cabeça, abandonaram sua postura Marxista, ganhando as eleições.

Críticas ao marxismo

Artigo principal: Críticas ao marxismo

A crítica liberal

Os membros da escola austríaca foram os primeiros economistas liberais em criticar sistematicamente a escola marxista, já que tratavam em forma quase oposta questões como o dinheiro, o capital, os ciclos económicos e os processos económicos. Entre estes se conta principalmente a Eugen von Böhm-Bawerk quem se dedicou a refutar a teoria do valor marxista, tanto desde a Escola Austríaca (A teoria da exploração) como desde dentro da própria teoria marxista (A conclusão do sistema marxiano). Rudolf Hilferding fez uma contrarréplica que salteó certas questões pontuas para resgatar a validade holística do marxismo como crítica à “teoria económica burguesa”. O debate que sucedeu a este foi entre Ludwig von Mises (discípulo de Böhm-Bawerk) e o economista marxista polaco Oskar Lange. Mises impactó profundamente nos planificadores soviéticos preocupados pela pouca consecución de seus objectivos, com uma observação empírico-deductiva sobre as razões do crescente falhanço dos projectos económicos do socialismo, seu iminente colapso ou dependência de países estrangeiros capitalistas. Esta primeiro exposição sobre a necessidade de preços para os factores de produção voltar-se-ia uma obra completa titulada O socialismo. Mais tarde Mises estendeu-se para além da imposibilidad do cálculo económico no socialismo (problema observado com especial atenção por seu colega Max Weber em Economia e sociedade), atingindo sua crítica à mesma metodología marxista de interpretação histórica com sua análise do polilogismo clasista em Teoria e história, que tinha sido a base da crítica de Hilferding. Oskar Lange propugnó uma economia socialista com um mercado estatal na que os preços fossem determinados segundo um método de ensaio e erro, até achar um preço adequado. O debate entre ambos economistas continuou durante vários anos, até que Oskar Lange afirmou que von Mises tinha parcialmente razão, assimilando o contribua de von Mises à análise da acção humana: a praxeología, mas sem explicar com ela toda a teoria económica. A resposta austríaca aos argumentos de Oskar Lange viu-se completada com a análise não-praxeológico e evolucionista de Friedrich Hayek, cujos escritos ao respecto foram compilados no livro Individualismo e ordem económica. Um amigo de Hayek, o epistemólogo Karl Popper, realizaria paralelamente uma crítica muito conhecida à filosofia social do marxismo, em um aspecto nuclear de dita doutrina: o historicismo.
Economistas austríacos como Joseph Schumpeter têm revisado as origens do capitalismo e têm recusado a noção marxista de agregado originaria como uma contradição autorreferente que requer capital inicial para a actividade de uma suposta burguesía violenta originaria. No capitalismo e os historiadores, Hayek junto a T.S. Ashton, Louis Hacker e outros historiadores do progresso tecnológico, propõem uma relectura não-marxista da história do desenvolvimento do capitalismo, em particular a Revolução industrial.

Desde premisas económicas não tão dispares às marxistas, a asa mais liberal das escolas económicas clássicas bem como do mainstream neoclásico, tem entrado em conflito com interpretações teóricas e históricas dos seguidores de Marx. Entre estes cabe mencionar a Gary Becker para o entendimento da história desde a sociologia económica e James Buchanan com uma visão maquiavelista da filosofia política desde a teoria da eleição racional. Thomas Sowell desde a economia e Robert Nozick desde a filosofia (em Anarquía, Estado e utopia) têm reaberto o debate sobre as contradições gnoseológicas na análise económica marxista. O institucionalista Douglass North em seu estudo clássico O nascimento do mundo ocidental: uma nova história económica tem oferecido uma revisão da história do capitalismo que tem sido tido muito em conta entre os historiadores marxistas.

Em contraposição à antropologia do americano Lewis H. Morgan que Marx e Engels fizeram sua na origem da família e segundo a qual todas as economias comunitárias primitivas teriam sido comunistas, o liberalismo se nutriu da antropologia de diferentes autores e historiadores como Bronisław Malinowski e Fustel de Coulanges entre outros, para elaborar uma visão quase oposta da origem da propriedade privada que depois seria resumida na obra do historiador Richard Pipes Propriedade e liberdade. Respecto da noção marxista de ideologia de classe”, o autor liberal-conservador Kenneth Minogue foi um dos primeiros em investir na teoria pura da ideologia, voltando contra as próprias doutrinas sistémico-clasistas (que tratam de “ideológico” a todo o pensamento) a acusação de reificación ideológica por parte de interesses revolucionários em uma luta de classes cuja existência não pode ser posta em dúvida sem apelar a uma instância neutra.

A crítica anarquista

Tanto o anarquismo como o comunismo marxista procuravam em última instância a abolição da propriedade privada e a sociedade sem classes sociais nem Estado mediante uma revolução social. Não obstante, anarquistas e marxistas têm estado enfrentados desde que Pierre Joseph Proudhon, que conhecia a Marx e Bakunin, afirmou que bem como a tese do capitalismo garante a liberdade abolindo a igualdade, a antítese comunista sofre a contradição oposta; aplicando a dialéctica hegeliana em seu livro Sistema das contradições económicas ou filosofia da miséria (1847), assinalou que só com a síntese do mutualismo se podem resolver estas contradições, o que provocou a ruptura de Marx com Proudhon, expressada em seu escrito crítico Miséria da filosofia (1847).[4]

O confronto entre marxistas e anarquistas atingiu seu clímax na luta entre os partidários de Marx e os de Mijaíl Bakunin pelo controle da Primeira Internacional, e que acabou com a ruptura da mesma em 1872. A base do conflito centrava-se em que, bem como os marxistas criam na necessidade transicional de um Estado baixo controle dos trabalhadores (a «ditadura do proletariado») e que a sua vez se encarregasse de controlar a economia («planejamento central»), os anarquistas pensavam que o caminho ao socialismo (ou ao comunismo) passava pela destruição do Estado. Para os anarquistas, um Estado socialista repetiria as características de opresión e privilégio contra as que lutavam, ao mesmo tempo em que, ao estender os poderes à organização da vida económica, resultaria ser inclusive mais opresivo.[5]

Outra confrontación encontrava-se no papel que tinham luta económica e a luta política na emancipación da classe operária. Para os marxistas, como o objectivo da luta proletaria era a conquista do poder político, a luta política ocupava um lugar central. Para os anarquistas, a única luta política válida era a luta pela destruição revolucionária do Estado, que esperavam surgisse espontaneamente da luta económica. A socialdemocracia, herdeira do marxismo, inclinou-se para o parlamentarismo e a actividade legal; enquanto o anarquismo inclinou-se para os ataques às instituições e agentes estatais (propaganda pelo facto) e à organização operária apolítica (anarcosindicalismo).

A confrontación entre marxistas e anarquistas continuou depois baixo outro cariz a partir da revolução russa. O bolchevismo russo, encabeçado por Lenin , deu nova vida à teoria do Estado revolucionário. Em sua obra O Estado e a Revolução, Lenin explica que o estado burgués deve ser destruído para depois instaurar um Estado revolucionário e que seria este estado quem extinguir-se-ia conforme desapareçam as contradições de classe. Os anarquistas, ante as consequências da ditadura bolchevique, continuaram reivindicando, com novo brío, a teoria bakuninista da destruição imediata do Estado como objectivo da revolução social.

Actualmente, a controvérsia entre anarquistas e marxistas passa mais pelas formas de organização e métodos de luta das massas explodidas e a relação dos revolucionários com estas. Enquanto os herdeiros do marxismo (partidos leninistas de diferente cuño) continuam reivindicando as práticas político-partidárias com seus métodos centralistas, os herdeiros do anarquismo reivindicam a organização asamblearia, a federação e a democracia directa.

Veja-se também

  • Ver el portal sobre Marxismo Portal:Socialismo. Conteúdo relacionado com Socialismo.
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Referências

  1. a b c d marxists.org
  2. Crítica da filosofia do direito de Hegel, 1843
  3. Sobre a questão judia, 1844
  4. Silvia Vega María Cuvi Alexandra Martínez, História da Filosofia III, p.76
  5. Miller e Coleman, 1991, «anarchism», pp.10-14

Bibliografía

Enlaces externos

krc:Марксизм

Obtido de http://ks312095.kimsufi.com../../../../articles/c/ou/m/Comunicações_de_Andorra_46cf.html“